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terça-feira, 10 de janeiro de 2012


                                                                           







             

 
   
  
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A partir de hoje publicaremos informações sobre o 1º Concurso Literário Prêmio Valores da Nossa Gente/2010.



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011




Menção Honrosa
Categoria Poesia

Monlevade em mãos de artista

_ Podes, então, artesão amigo,
teceres um tapete de seda ou de corda
retratando, nele, a tua Terra Natal?

Nem imaginas o quanto me alegras
Com o teu sim, a tua arte e, também,
Com tamanha disposição...

Não que eu queira podar a tua criatividade,
Mas sugiro que nele teças alguns detalhes:
Inicia pela Igreja São José Operário
e aquela mata em seu entorno!
Sei que sabes – consumirás todo o teu estoque de linhas verdes.
(Reponho-as, se precisares delas mais tarde!)

Não te esqueças das casinhas dos operários,
Nosso presépio já consagrado e reconhecido em toda a região!

Enriquece-o, também, com leves toques de tuas artistas mãos,
Com silhuetas dos operários na lida e no ir e vir à fábrica, antiga Belog-Mineira.
Repica, em torno dessa mesma localidade, figuras femininas com seus balaios de
verduras equilibrados sobre as cabeças, humildes verdureiras; também crianças antigas
de pé no chão, “os boieiros”.
Alguns poucos elegantes homens de terno e gravata, estrangeiros, a conversarem e,
vez ou outra, confirma, em teus traços, as baforadas que soltavam com teus finos (e caros) charutos.

Retrata o Cassino movido por tuas lembranças mais íntimas e poéticas.
Esboça o Colégio de Tábuas e outras miragens inesquecíveis daquela época.
(O que surgir de agradável em tua imaginação!)

Não permitas, gentil artesão, que teus dedos se firam no manuseio que milhões de
vezes farás com a tua ferramenta de trabalho: a agulha...
senão, a cor vibrante do sangue no tapete derramado, entristecerá tua arte.
(Desta vez, pelo menos desta vez, não queremos tristeza numa obra-prima).

Continua a tecer, sem esqueceres dos pombos e dos verdeados lagartos e aranhas dos
muros de pedras, das imponentes palmeiras imperiais da Fazenda Solar e todos os detalhes visíveis à sensibilidade de teu olhar!

Vai, artesão, construindo o que sentes, imprimindo em teu tapete o que nesta terra
já viveste intensamente.
Amarra teus sonhos nas casas geminadas de quintais com árvores copadas que se debruçam entre os rios.
Corrige as ruas calçadas de pedras que lembram tantos amores e, reforça
tuas pegadas em tuas lembranças, nas paisagens reais que, ainda, podem compor o
cenário monlevadense.

Anda como sempre e sorria com tua simplicidade estampada no rosto.
Mantém teus cabelos cacheados e longos, sempre despreocupados com pentes e
tesouras! Tuas marcas são próprias de artistas na essência da vida.

Teu ser é atemporal, tua presença, um gesto natural das mãos divinas!
Ah, não te esqueças dos carneirinhos vistos por quase todos da cidade,
no alto daqueles morros na outra parte da cidade...tão alvinhos, tão trabalhadores...
(Quero mirá-los na tua tela-tapete, acompanhá-los na subida e descida do mato.)
Sei que tens especial predileção pelas crianças.
Então, salpica-as em todos os buraquinhos que, por ventura,
Encontrares em teu tapete, serão as crianças do Grupo Monlevadense e de hoje.

O arremate final, querido artesão,
Ficará, também, por tua conta.
Porém, se quiseres, doar-te-ei a minha caixinha de trequinhos mágicos.
Nela, encontrarás fios largos, nenhum estreito, de felicidade, lacinhos de ternura, fitas de pureza e recortes de tecidos que, um dia, foram vestimentas do amor.
Confesso-te que tudo isso, guardado nessa caixinha, foram presentinhos que
ganhei dos anjos dessa cidade, com os quais convivi e ainda convivo.

Peço-te que, se sobrevoares sentado em teu tapete em nossa João Monlevade, leva-me
contigo e, quando estivermos bem alto, creio que eu não abrirei os olhos, tenho vertigens.
Então, contempla os Rios Piracicaba e Santa Bárbara, a Serra do Seara e tantos outros lugares de que agora não me lembro...
Faze isso por mim e sentirei saudades das paisagens aéreas que não
vi voo do tapete bordado de uma cidade!

Ah, e quando aterrissares... oh, fico feliz com o que me revelas!
O fundo do tapete se libertará de uma película, que o tornará autocolante.
Dessa forma, encravar-se-á no chão dessa terra e, dela, fará parte como um
asfalto cultural permanente, desses que expressam o sonho e a beleza
de um povo sensível, cuja história traduz-se em trabalho e se é registrada
pela inspiração da arte, seja no entrelaçar de linhas de um anônimo artesão,
que tece à luz de tuas lembranças, da prosa com o conterrâneo ou antigo morador
e das imagens coloridas, cobertas de sorrisos oriundas
da tua Terra Natal: João Monlevade!





 Menção Honrosa
Categoria Poesia

Nostalgia
Rita de Cássia Abreu e Silva

Agora só me restam as lembranças
De um tempo mágico, fagueiro
Onde eu podia deslizar
Sem receio, no universo
Afinal, sempre e sempre, lá estava ela

Naveguei por muitos anos
Nas ondas de seus seios
Que acolhiam, envolviam e embalavam
O corpo meu, os sonhos meus, os dedos meus...
E com sua voz transformava-os em canção
Dando um concerto para saudar o arco-íris

Mas de repente, ela se foi
Levando consigo um ramo de sol
Dentro da noite fria
E o manto estrelado da natureza
Comemorou sua presença, sua beleza

Hoje sei de todas as importâncias da vida que
Cabem dentro do ser
Porque com ela, simplesmente aprendi.
A ternura oceânica do seu olhar me guia por todos
os horizontes,
Sua sabedoria imensurável deixo brilhar distraída
Também no meu rosto
Suas delicadezas secretas quero ver explodir
Por todos os anos que a vida me brindar

Por isso vou assim no meu caminho... tão apenas andando
É que agora só me restam as lembranças
De um tempo mágico, fagueiro...




Poesia classificada em 1º Lugar no II Concurso Literário 
                      "Prêmio Valores da Nossa Gente".

 Como ler um rio dentro da cidade original
Geraldo Magela Ferreira


joão cabral de melo neto
Se tivesse visto o piracicaba
imaginaria "um cão sem plumas”?

  
todo rio faz
uma releitura
lenta
digestiva
das geografias
que assimila

nenhum rio escolhe uma cidade
elas se erguem
à revelia
invadem margens
violam a água

a cidade surgiu
do ferro e fogo
com esse rio
nas entranhas
serpente de fúria
e calmaria

durante as cheias
lambia casas
devorava incautos
depois acalmava-se
numa sonolenta
vigília surda

a calda do rio
como o corpo
dos homens
absorveu o aço
seus fluídos
seu ácido

as águas rubras
semimortas
não sentiram
o corpo urbano
indócil
expandir-se

na margem virtual
da cidade outra
lia-se o rio como morto
sem traduzir seus
ritos e tragédias
ou deduzir seu esgoto

mas o rio seguia
a sua escrita
selvagem
pouco denso
menos químico
mas indivisível

enquanto a memória
sonâmbula
esquecia o rio
emparedado
na releitura eterna
da cidade original.