Era tudo uma questão de tempo. Ele já sabia disto desde o início. Ele não era um engenheiro, médico, administrador ou coisa do tipo. Talvez, tivesse no máximo o ensino fundamental completo. Mas, uma coisa era certa, ele tinha sonhos e os sonhos não precisam de muito para se tornar realidade. Coragem, fé e perseverança, são mais do que o suficiente para transformar qualquer desejo e conquista.
Assim foi com o Sr. Augusto, homem da terra, acostumado com a vida rural, habituado a acordar antes de todos e dormir junto com o sol. Não tinha muitos luxos ou caprichos, viveu mais de 90 anos, comendo feijão temperado com banha de porco e mais um monte de coisas que a medicina atual condena. Pouco, ou quase nada convive com ele. Mas seu chapéu panamá, sua bengala e o rosto marcado pelas suas vitórias se tornaram inesquecíveis para mim.
Augusto, apesar da idade, não era de falar sobre seus dissabores, suas dores, ou enchia a cabeça dos jovens e adultos com filosofias de quem já viveu o bastante para escrever um verdadeiro tratado sobre a vida. Ele era mais simples do que isto, e por isto mesmo se tornava imenso aos meus olhos. De todas as prosas que tinha a que mais gostava era das coisas de infância. Das brincadeiras com os irmãos e das surras que levava dos pais quando aprontava demais.
Mas ele era ainda mais do que isto. Como disse antes, Augusto era um sonhador. Em um de seus sonhos, viu em uma pequena cidade, um grande potencial. Com algum esforço, juntou algum dinheiro e comprou, aqui, em João Monlevade, um pedaço de terra, coisa pouca para os dias de hoje. Na época, Carneirinhos não podia ser chamado de bairro, tampouco de centro comercial. Mas, ali ele plantou a semente de seus sonhos.
Augusto não era Monlevadense, como muitos que contribuíram para o desenvolvimento de João Monlevade, ele também não morava por aqui, mas queria que os filhos não precisassem de trabalhar como ele trabalhou, ele desejava mais para eles. Assim, apostou alto que Monlevade cresceria, e cresceu.
Pouco tempo depois, se instalava no Centro Comercial, uma das mais tradicionais casas de confecção da cidade. Pouco falamos sobre isto, na verdade, ele mesmo nunca me contou isto. Fiquei sabendo por outras pessoas que tanto o admiravam. Mas, posso imaginar o quão feliz e realizado ele se sentia toda vez que via aquele comércio, que para ele era mais que isso, era a realização de um sonho.
E seu sonho deu frutos. Outras lojas foram se instalando aos poucos, e a cidade foi tomando corpo, aquela região que antes não era nada, passou a ser cada vez mais freqüentada, a cidade foi se urbanizando, saindo das dependências da indústria, saindo aos poucos do centro industrial, e ganhando sua independência. Por pouco não foi o pioneiro, mas investir em algo que ainda não existe, é dar um tiro em um alvo, iluminado apenas por um fio de luz chamado sonho.
Talvez, de todas as lições aprendidas com o velho Augusto, a mais importante, foi esta. Não foi uma lição falada, e sim uma demonstração clara de como podemos realizar aquilo que queremos.
Há dois anos, Augusto faleceu. Deixou para sua família, muito mais que um comércio, uma casa e um bom pedaço de terra. Deixou exemplos. Exemplos de lutas, de perseverança, de fé, de sonhos. Bom e velho Sr. Augusto.
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