DONA MARIETA - TEM UMA LATINHA AÍ, MOÇO?
Sheila Virgínia Alonso Cordeiro Malta
Dias desses, lembrei-me de uma figura querida de nossa João Monlevade, que há pouco tempo se foi: D. Marieta.
Figurinha ímpar, com seu cabelinho arrumado, fala mansa, passo ligeiro e sempre com a mesma pergunta: Tem latinha aí moço?
Dona Marieta, a quem muitos assim a chamavam, não sei se carinhosamente (eu pessoalmente nunca soube se este realmente era seu nome.) Apenas acostumei como todos, a percebê-la e com ela conviver pelas ruas da cidade.
Seu estilo era inconfundível, eis que por trás daquela aparência frágil, de uma velha senhora, para alguns inútil, para outros coitada, para tantos uma "louca" e para muitos um exemplo, escondia-se uma mulher que realmente à sua maneira, soube viver, sendo inclusive, motivo de orgulho e disposição (quanta disposição!). Dava "banho" em marmanjos e moçoilas...
E aquele olhar, o sorriso tímido, a pele demonstrando "anos de experiência"...
Certa feita voltava eu de meu trabalho, quando deparei-me com referida senhora, a qual me abordou e questionou:
-Ei mocinha? Tem uma latinha aí?
A que respondi:
-Sim, creio que sim, entregando-lhe logo após o tão estimado objeto.
Executada a tarefa, saiu a nossa heroína, atravessou a rua, cumprimentando e sendo cumprimentada por alguns, inobservada por outros e causando até mesmo "certa inveja" em muitos (seu fôlego era incrível! Andava o dia inteiro...)
Para minha surpresa, eis que a cena anteriormente narrada se desenvolveu durante o percurso entre minha casa e o meu local de trabalho, os quais são bastante próximos, nossa personagem parou junto ao ponto de ônibus, no momento em que justamente parava a linha de nº 12, sentido Sta. Bárbara - CSBM.
E não é que a "mocinha" entrou nele? Dei uma leve risada e pensei comigo: Forrozeira. rsrsrs"
No outro dia, triste notícia:
"Uma senhora foi atropelada na av. Wilson Alvarenga, próximo ao posto Barrocar. Identificada como fulana de tal, mais conhecida como D. Marieta (...)"
Nossa! Foi como um balde de água fria.
Como assim? Pensei.
Naquele dia, o dia realmente me pareceu cinza...
Impressionante como nós seres humanos somos né?! Infelizmente aprendemos uma cultura de valorizar mortos, e nos esquecermos dos vivos... Ou somos todos, sem exceção, talvez egoístas ou distraídos demais, para interpretarmos e entendermos realmente a famosa frase: " A morte de alguém nos diminui."?!
Passaram-se os dias, as semanas, os meses...
Não sei, mas sabe quando sente-se falta de alguém pelo simples fato de que esta pessoa tornava seu cotidiano mais agradável? Ainda que fosse uma pessoa aparentemente desconhecida, sem qualquer laço de parentesco?
Após estes fatos, leitor, sempre me questiono:
Onde estão nossas Marietas? Seria ela a única?
Esta pergunta, levanta uma série de repostas, em sua maioria altamente subjetivas, como se espera de todas as respostas...
Só sei que, ao fazer minha rota diária (casa-trabalho), como se por força do hábito ou mesmo um costume natural, fito por alguns segundos os pontos de ônibus e imaginariamente ainda consigo ver:
"Ei moço? Tem uma latinha aí?"
Dona Marieta ( à direita) com o prefeito Gustavo Prandini, poucos dias antes
de nos deixar.
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