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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

2° LUGAR - CATEGORIA POESIA - FUNDO DO BAÚ

FUNDO DO BAÚ
Afonso Torres da Silva


João Antônio e Clara Sophia na Solar
Plantaram sonhos de uma vida exemplar
Louis Ensch e sua Maria tomaram os sonhos
Pra si, edificando-os em realidade...

Os camponeses se fizeram operários
Removendo muita terra em lombo de burro
Sob a batuta do Maestro Burian
Uma sinfonia metálica se ouvia!

Picaretas, enxadas, pás, muito cimento
Martelo e prego, serra e plaina e madeira
Parafusos, porcas, ruelas e alicates
Confundiam-se em vários sons furiosos!

E a Fazenda Solar, quase adormecida
Se viu, então, toda rodeada de casas
Escolas, armazéns, clubes e hospital
Igreja, usina, chaminés e fumaça!
Cônego Higino e as Irmãs Holandesas
Se dividiam entre a fé e a educação...
Uma cultura européia no Hotel Cassino
Influenciava os "capiaus" da usina

E os meninos registrados em cartório
Do Sô Joanico e Dona Luzia de Melo
Levavam marmitas do almoço de seus pais
Ou buscavam leite e mingau no lactário.
Ayres Quaresma foi pra guerra e lá morreu
Cedendo seu nome pra Praça do Cinema:
Um conjunto arquitetônico com ares
De Praga, onde escola, clubes, banco e farmácia

Dividiam espaço com a rádio do Altino
Banca do "Baixinho", bares e o "Foto do Diló"
Neide Roberto e Jujú Alves encantavam
A frente da orquestra de Baile do Macedo...

Carnaval de blocos e concurso de fantasia
Festa junina com casamento na roça
Futebol de salão e até banda de rock
Tava lá Dona Conceição, mãe da Cora!

Hora dançante no Ideal ou União
Clube de Caça e Pesca, Grêmio e Social
Semana Santa: procissão e encenação
Mês de Maria - tempo de coroação!

Lá na Vila Tanque a quermesse e o futebol
Rolava solto no campo do Jacuí...
Padre Henrique foi educar em Carneirinhos
E Sô Nicácio construía na Areia Preta
Enquanto a banda subia o Morro do Geo
Mozart via seu pai do Bar do Daniel
Ali mesmo, na Siderúrgica, tinha hotéis
- Do Moacir, Do Civis e até mesmo a "Katanga"

Da Praça do Mercado saiam as carroças
Levando as “compras do mês” pra casa da gente
Todo mundo, ali, trabalhando "que nem burro"
Mas, unido e feliz, como uma grande família

Andando pelas ruas com nomes de índios
- Guaranis, Tocantins, Tietê, Carijós -
Afinado em só canto feito coral
Tão bem regido pelo Luciano Lima

E assim, seguia a vida de pequena vila
Que virou distrito e até mesmo se emancipou
Abrindo espaço pr’outros nomes, outras histórias
Futuros causos, fatos em discursos novos

O antigo bairro virou centro comercial
A cidade agora, é centro industrial
A " Nossa Belgo" virou ArcelorMittal
E o nosso povo sempre além do Bem e do Mal.

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