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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

COLABORAÇÃO DO PROFESSOR DADINHO, UM DE NOSSO MAIORES INTELECTUAIS


    Quando aportou no Brasil em 1817 e fixou-se no então arraial de São Miguel do Piracicaba, Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade não imaginou, com toda a certeza, que estava pondo os pés numa terra que eternizaria seu nome como o ícone mais representativo de sua história. Não cogitou também que sua forja catalã, embrião da Belgo-Mineira, projetaria seu nome como pioneiro da indústria siderúrgica do Brasil, nem que seu magnífico Solar, atravessando os tempos, assistiria ao desabrochar de uma nova cidade.
    No entanto, testemunhou a movimentação de pequenos agricultores que, vestidos de branco, percorriam, quais pacatos carneirinhos, as colinas verdejantes das terras vizinhas de sua rústica fábrica de ferro, na faina diária de cultivar a terra e dela tirar o seu sustento. Ele mesmo, com sua fábrica, lhes fornecia pás, enxadas, serras, moendas e outras ferramentas de trabalho.
    Essa pequena forja, razão de ser de sua vida, não obstante as terríveis dificuldades para conduzi-la,  chegou a ser considerada a mais importante da Província. Somente após sua morte, ocorrida em 1872, a fábrica viveria certo fracasso, principalmente pela mudança contínua de administradores. No entanto, enquanto viveu Jean de Monlevade, ela foi o testemunho vivo de sua tenacidade e competência, valores legados à posteridade.
    Foi nas asas dessa tenacidade e competência que, cerca de um século depois, em 1927, outro engenheiro europeu, Louis Jacques Ensch, em missão da Arbed, então proprietária da Forja Catalã, do Solar e das antigas terras do Senhor de Monlevade, "ressurge o sonho dissandes, ressuscita jean félix, e o transforma em monlevade" . Foi por obra do Dr. Louis Ensch que aquelas sesmarias ganharam civilização e urbanismo, fazendo pulsar um coração humano naquele peito de aço que se erguera às margens do Piracicaba.
    Eis aí, em rápidas pinceladas, o quadro que confluiu na criação do distrito de João Monlevade, em 27 de dezembro de 1948, integrando numa só circunscrição administrativa as antigas terras do Senhor de Monlevade e as propriedades dos pacatos "carneirinhos", desanexadas do distrito-sede de Rio Piracicaba.
    Nesse novo distrito já se haviam instalado os Bicalhos, os Paula Santos, os Loureiros, os Gomes Lima, os Pereira Lima, os Martins, os Bragas, os Cândidos, além de outras famílias que para aqui vieram para se empregar na "Belgo", ou prestar serviços básicos à população, em franco crescimento.
    Despontam os anos sessenta. Cresce a população. Das forjas da Belgo-Mineira emerge operosa força sindical. Surgem os primeiros líderes políticos, desenvolve-se o comércio e a pequena indústria, e se aquece a construção civil: se havia uma cidade de fato, urgia fazê-la de direito. A Comissão Pró-emancipação une forças políticas e conquista, após muita luta, a emancipação política do município em 29 de abril de 1964.
    A emancipação abre as portas ao desenvolvimento: nascem novos bairros; cria-se a Acimon; instala-se a Cemig e a Telemig; a cidade ganha postos da Receita Federal e da Fazenda Estadual; instala-se o ensino técnico e superior; desenvolve-se a imprensa; intensificam-se as artes e a literatura; aumentam as opções de lazer; organiza-se a política partidária. É o povo traçando o seu próprio destino, fazendo a sua História.
    São novos tempos. A cidade guarda muito pouco das antigas sesmarias do Senhor de Monlevade, e os "carneirinhos" não mais pontilham de branco suas verdes colinas. O Solar Monlevade, testemunha silenciosa da história, viu espalhar-se através da topografia irregular de suas terras o casario numeroso, marcado pelas Avenidas Getúlio Vargas, Wilson Alvarenga, Armando Fajardo e Alberto Lima, os novos caminhos do progresso e do desenvolvimento.
    Consolidada a interação do Executivo e Legislativo, faltava à cidade a plenificação do poder civil através do poder Judiciário: a Comarca, criada em 15 de novembro de 1975, é instalada em 1979.
    A cidade ganha prestígio regional: torna-se sede da Amepi. Sintonizada com os novos tempos, a iniciativa privada se desenvolve e investe no município: surgem empresas de prestação de serviços, clínicas, escolas, instituições esportivas e culturais. Consolida-se o ensino superior com a extensão da Ufop e o campus avançado da Uemg.
    O povo, com cultura e tradições próprias, projeta sua identidade nas novas gerações, produzindo líderes e mentores, que se destacam no comércio, empresas, saúde, educação, administração pública, esportes, religião, literatura, artes e política. É a cidade que cresce, solidifica-se e se eterniza.

Este texto encomendado ao Professor Dadinho, contextualiza historicamente a cidade de João Monlevade e traduz a sua importancia. Sua participação enriqueceu e muito o Concurso "Valores da nossa gente". 

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